"A tatuagem é uma forma que a pessoa encontra de expressar um sentimento."
Paulo César dos Santos
"A pessoa sempre tem que estar de bem consigo mesma para que ela possa seguir sua vida e ser feliz." Gleisy Loures do Santos
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A história que relato é composta por fragmentos da vida de um casal que há mais de vinte anos está junto, e com muita persistência e respeito ao próximo tornou-se referência, conquistou seu espaço; são prova de que quando há amor e determinação todas as barreiras podem ser superadas.
Os personagens dessa história, Paulo César dos Santos, mais conhecido como Paulinho Tattoo, e Gleisy Loures dos Santos, piercer, são considerados, em Londrina, os pioneiros nessas profissões, marginalizadas por muito tempo e ainda hoje sofrem certa resistência de grupos mais conservadores da sociedade. Entretanto, a realização de um trabalho responsável e as mudanças da sociedade conspiraram a favor do casal; hoje a tatuagem e o piercing tornaram-se mais uma forma de expressão, um registro de impressões, sensações e vivências, o que de fato exaltou e facilitou muito a atuação de ambos na cidade.
A união dos dois foi imprescindível na superação dos inúmeros obstáculos, que um a um foram sendo transpostos; cada um deles teve a sua importância para a construção de pilares sólidos, nos quais se apóiam.
Paulinho e Gleisy constituíram seu clã. Dele fazem parte três lindas garotinhas: Kauana Loures dos Santos, de 16 anos, Yohana Loures dos Santos, 15 anos, e Alana Loures dos Santos, de 13 anos. Cada uma delas com uma personalidade bem definida. Kauana é uma menina dedicada e amorosa. Yohana é a mais radical, adora piercing. Já Alana é mais chegada aos desenhos e de forma ainda inocente almeja seguir a profissão do pai. "Todas elas já colocaram algum tipo de piercing, porém os adornos são utilizados com cautela; o fato de elas serem filhas de uma piercer não lhes dá o direito de andarem cheias de piercings, pelo contrário, as três têm conhecimento amplo sobre as responsabilidades que o uso implica, como por exemplo o cuidado extremo."Quanto à tatuagem, impusemos regras; a sociedade atual, mesmo com as inúmeras modificações, ainda é bastante repressora, elas não têm noção disso. Para evitar danos causados pelo julgamento ou preconceito, elas só o farão quando estiverem preparadas para lidar com isso, ainda é cedo", salienta a mãe.
Paulinho e Gleisy vivem da arte da tatuagem e de colocar piercings nas pessoas. Ele é um dos tatuadores mais conhecidos da região. Aos sete anos de idade já desenhava, aos 13 anos já tinha um traço firme e perfeito. Em meio às descobertas dessa idade deparou-se com o fascínio pelos desenhos de banda de rock e pelas tatuagens. Sua arte já buscava uma identidade ideológica para se comunicar, e esta foi encontrada na tatuagem. "A tatuagem é uma forma que as pessoas encontram de expressar um sentimento", revela Paulinho. O tatuador diz que a imagem na pele funciona como um registro de um momento, a representação de uma nova fase de vida para a pessoa; outras vezes é um registro de perda; ou ate mesmo uma aliança de amor. Porém, uma escolha mal feita pode trazer muito arrependimento, mágoa e dor. Paulinho aconselha as pessoas a refletirem bem sobre a decisão que elas vão tomar, desde o desenho que vão fazer até o lugar que escolhido para se tatuar.
Paulinho complementa afirmando: "Muitas vezes é mais fácil se livrar das cicatrizes de um casamento mal feito do que da marca de uma tatuagem, devido à dificuldade de tirá-la. Há duas saídas quando a tattoo se torna algo indesejável: fazer um outro desenho que cubra totalmente o anterior ou usar o laser; este também deve ser utilizado com cautela pra não trocar a tatuagem por uma cicatriz".
No que diz respeito à colocação de piercings, a principal preocupação está nas medidas de profilaxia e conhecimento de princípios da medicina tradicional chinesa, como os pontos energéticos de nosso organismo. "Eu respeitos os pontos energéticos, um furo num desses pontos pode prejudicar um dos órgãos vitais do nosso organismo. As pessoas desconhecem os cuidados que envolvem essa técnica", explica Gleisy. A piercer também esclarece que noventa por cento da cicatrização depende da pessoa e somente 10 por cento de quem faz o procedimento. "Além disso, poucos têm consciência da importância dos cuidados para uma boa cicatrização. Cada organismo funciona de uma forma. Aqui no estúdio orientamos passo a passo os procedimentos que as pessoas devem seguir em casa quando colocam um piercing."
Paulinho e Gleisy iniciaram em 2009 suas atividades em um novo estúdio, com espaço amplo e conforto. O sucesso deles é o fruto de um longo lavor de 23 anos de aperfeiçoamento de habilidades, que lhes retribuíram as bases, os alicerces de suas vidas. Finalizam a entrevista ressaltando mais uma vez a importância da união da família. "O que desejamos para nossa família é ficar bem, é estar em paz. Isso é o suficiente para nós."
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